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Entrevista Revista Estilo

Os pais contemporâneos

09/08/2008

Participação é a palavra chave na nova relação entre pais e filhos

A correria da vida moderna tem consumido o tempo que antes era utilizado para ler um bom livro, conversar com os amigos e ficar em família. O resultado, sem dúvida, afetou a relação entre pais e filhos e hoje o chamado "pai moderno" quer mesmo é participar ainda mais da vida dos filhos. Pelo menos esse foi o desejo revelado pela última pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha sobre a família brasileira: 49% dos homens acham que deveriam ter dedicado mais tempo aos filhos.

A terapeuta familiar Karla Carbonari confirma a pesquisa e relata que tem notado um interesse muito grande dos pais em estar mais próximos dos filhos, principalmente entre os que se separaram de suas esposas e vivem distantes das crianças. Para a psicoterapeuta Tais Boza, que há oito anos trabalha com terapia familiar, os homens estão se tornando pais de forma mais consciente e por isso querem participar mais da criação dos filhos.

É o caso de Thiago Aguiar, 29 anos, que sempre sonhou em ter um filho. Ele, que aos 26 anos foi pai pela primeira vez, gosta de se envolver na criação e na educação de sua filha Laura de três anos. "Percebo o quanto é importante estar com ela, pois de um dia para o outro ela já cresceu, e sei que essa fase passa rápido, por isso curto mesmo, faço mamadeiras, dou algumas refeições, e principalmente, brinco muito com ela.

Apesar de toda a proximidade que vem sendo construída no âmbito familiar entre pais e filhos, no quesito confiança, os filhos ainda colocam a mãe em primeiro lugar. “O pai geralmente passa menos tempo em casa com os filhos e sempre se preocupa mais em como sustentar a família. Com isso acaba transferindo para as esposas a função de aconselhar e conversar com os filhos. O filho também fica mais tempo com a mãe”, explica a terapeuta Karla.

O adolescente Rafael Yamada, 16 anos, sempre que precisa de ajuda procura a mãe para resolver problemas relacionados à escola ou namoro. “Não me sinto a vontade em falar sobre estas coisas com o meu pai”, conta.

Para a psicoterapeuta Tais este distanciamento também ocorre porque muitos homens não se acham preparados para ouvir e aconselhar os filhos, o quê para ela é um engano. “Eles, geralmente, emocionalmente, têm menos estrutura para tratar desses assuntos com os filhos, mas mesmo assim têm perfeitas condições de resolver os problemas e se saem muito bem quando tentam.

O estudante Diego Aparecido, 18 anos, prefere sempre falar com seu pai. “Ele é meu amigo e eu tenho mais afinidade com ele. Minha mãe muitas vezes não me entende, mas meu pai sempre me trata com muito carinho”, explica.

Tabus

Apesar de muitos pais estarem abertos e à procura de um relacionamento mais íntimo com os filhos, existem alguns assuntos que ainda são tabus para os eles e a homossexualidade é um deles. Conforme a pesquisa, houve uma queda de 20 pontos na taxa dos que considerariam muito grave um filho homem estar namorando uma pessoa do mesmo sexo, mesmo assim 57% dos pais (mãe e pai) ainda não aceitam esse comportamento do filho. “Esse assunto ainda é muito complicado porque os pais se preocupam com o sofrimento do filho”, explica Tais.

A vida sexual das filhas também é delicado para o pai. Apesar de atualmente 55% dos pais (mãe e pai) afirmarem que não vêem problema em saber que a filha perdeu a virgindade ainda solteira, a maioria (66%) rejeita a idéia de que a filha durma com o namorado em seu quarto.

A psicoterapeuta Tais salienta que mesmo a sociedade tendo evoluído muito em relação a isto, o pai ainda é mais resistente para aceitar que a filha já tem vida sexual ativa. “Ele sente que perdeu a menina dele que agora se transforma em mulher e que em breve vai sair de casa.

Perto do ninho

Perder os filhos do alcance, aliás, já não é um medo vivenciado somente pelas mães. Deixar os filhos viverem por conta própria é uma situação que demora a ser aceita também pelo pai. Segundo o Datafolha, para 57% dos homens, um filho só deve sair da casa dos pais depois de se casar, a mesma opinião foi encontrada em 63% das mulheres.

Quando a mesma questão envolve as filhas, os pais se preocupam mais do que as mães. Entre os homens, 76% responderam que ela só deve sair de casa ao se casar. 73% das mulheres concordam com eles.

Para Tais, existem vários fatores que fazem os pais agirem desta maneira. Uma delas é o fato de que os filhos atualmente precisam de mais tempo para amadurecer. “Eles entram mais rápido na adolescência, mas demoram mais para entrar na vida adulta”, explica.

Outro fator, segundo Tais é o mercado de trabalho que agora exige mais do profissional. “A faculdade às vezes não é suficiente para o profissional que precisa investir num MBA ou numa especialização. Antes uma pessoa alcançava a estabilidade financeira aos 22 anos, hoje ela consegue isto aos 35.” Com isso, os pais não sentem que os filhos podem viver por conta própria e continuam sustentando os mesmos quando podem.

Mas também existem fatores sentimentais que levam os pais a querer que os filhos vivam na mesma casa. A psicoterapeuta Tais destaca que muitos pais sofrem da síndrome do ninho vazio. “Hoje a relação dos pais com os filhos está mais próxima e mais freqüente e por isso eles sofrem mais quando os filhos saem de casa.

Edson Gomes, 55 anos, se encaixa neste perfil de pais que querem ter os seus filhos sempre por perto. Por ele, seus filhos Rafael (27) e Tatiana (30) poderiam morar para sempre com ele. “Se fosse por mim eles não sairiam nunca de casa”, afirma o pai que sonha em ter três casas uma do lado da outra para que possa ter os filhos como vizinhos. “Tenho uma relação de amizade e de muita admiração com os meus filhos. Procuro estar sempre junto deles”, conta Gomes.

Autor: Marina Bonini
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